Corda do Círio, produzida em Castanhal, é entregue à Diretoria da Festa
Confeccionada na Cidade Modelo, pela Companhia Têxtil de Castanhal (CTC), a Corda do Círio de Nazaré foi entregue nesta quarta-feira (13) à Diretoria da Festa de Nazaré, em Belém.
O Círio de Nazaré é uma realização da Arquidiocese de Belém, Basílica Santuário de Nazaré, Diretoria da Festa de Nazaré, com o apoio do governo do Estado e da prefeitura de Belém.
Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a celebração, em Belém, em homenagem à Nossa Senhora de Nazaré acontece anualmente desde o ano de 1793, sempre no segundo domingo do mês de outubro.
A cerimônia de entrega foi dividida em dois momentos: às 8:00, na sede da CTC, com a presença de diversas autoridades locais, dirigentes e funcionários da companhia têxtil. Na ocasião, houve uma benção. Em seguida, a corda foi conduzida até Belém.
A CTC é apoiada pelo governo do Pará, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Mineral e de Energia (Sedeme). E pela primeira vez um dos principais símbolos do Círio, a Corda, foi fabricada no Pará, com malva amazônica.
A peça ficará na Estação Padre Luciano Brambilla, da Basílica Santuário, e será vistoriada, como sempre acontece, pela DFN, em 23 de setembro.
O secretário adjunto da Sedeme, Carlos Ledo, explica que a corda foi produzida a partir da fibra vegetal da planta malva, conhecida por ser bem mais resistente do que o sisal, usado nas edições anteriores da festividade nazarena.
”Malva é uma planta amazônica, cultivada em várias regiões do Pará. Ela é uma planta com fibra resistente, muito mais resistente que a planta sisal, portanto, a corda este ano vai estar 10 % mais resistente. E o melhor, fabricado por mãos paraenses. As famílias envolvidas na produção da matéria prima estão se sentido totalmente inseridas no Círio de Nazaré. Isto para nós é muito gratificante”, afirmou o secretário adjunto.
O gerente industrial da CTC, Robson Torres, disse que a empresa recebeu a fibra de mais de 100 produtores dos municípios de duas regiões de integração. “Para nós, como empresa, é um orgulho grande. A malva é mais suave e resistente, dando uma sensação mais agradável ao toque das mãos dos romeiros”, explicou o gerente industrial da CTC, Robson Torres.
Para o coordenador de almoxarifado, Juarez Tavares, da CTC, receber a missão de produzir pela primeira vez no Pará, a Corda do Círio 2023, é motivo de honra e privilégio.
“Acompanhei cada processo de produção desse símbolo de fé e devoção. Nunca tive a oportunidade de ir na corda e tocar nela depois de produzida é muito emocionante. É algo inexplicável”, disse o coordenador que trabalha há 19 anos na empresa.
Entenda como surgiu a ideia de fabricar a Corda no Pará
No ano passado o projeto da corda do Círio 2023 foi lançado à Companhia Têxtil Castanhal-CTC. De acordo com o secretário adjunto da Sedeme, Carlos Ledo, a ideia surgiu de forma inusitada.
“Foi durante uma visita técnica de representantes da Sedeme, a convite da CTC, aos campos de malva, na zona rural do município de Monte-Alegre, no oeste paraense. Durante o percurso, um dos carros atolou, e chovia muito. Na tentativa de tirar o veículo do atoleiro, foi usada uma corda, que arrebentou várias vezes. Diante de tal situação, me veio a lembrança da história da corda em relação à berlinda, que em suas primeiras edições ficou atolada. Na ocasião, chamei o gerente da CTC, Robson, e lancei o desafio para fabricar a Corda do Círio 2023. Ele aceitou de imediato”, contou o secretário adjunto da Sedeme, Carlos Ledo.
Um protótipo de 50 metros foi apresentado no dia 31 de março, na sede da CTC, ao coordenador do Círio 2023, Antônio Salame.
Em seguida o material foi entregue para a Universidade Federal do Pará (UFPA), que realizou vários testes que comprovaram a eficiência do material. Após a entrega dos laudos, foi iniciada a produção da corda.
Para o secretário da Setur, Eduardo Costa, o momento é único, de protagonismo e simbolismo para o Pará. “É uma honra entregar essa corda feita de malva amazônica, mais segura, mais resistente e cultivada por mãos paraenses, que pregam sua fé no Círio”.
O titular também reforçou a atuação da Secretaria na quadra nazarena. “Esse período é considerado a alta estação para o turismo paraense. O valor estimado de turistas é de 80 mil visitantes e uma previsão de 150 milhões injetados na economia, gerando emprego e renda de todas as atividades envolvidas no turismo”, acrescentou.
Revisão da corda
No dia 23 de setembro, a partir das 15h, a Diretoria da Festa de Nazaré (DFN) e a Guarda de Nazaré realizam uma revisão geral na Corda do Círio. A vistoria, que será realizada no colégio Santa Catarina de Sena, em Nazaré, visa checar detalhes do ícone da festa de Nazaré como argolas, nós e estações, além da medição dos 800 metros da corda, para saber se estão em perfeitas condições.
Após este momento, a corda utilizada na Trasladação ficará em exposição na Estação Luciano Brambilla e a corda do Círio ficará em exposição na Estação das Docas, até os dias das procissões.
História
A corda foi incluída na procissão do Círio, em 1885, quando uma enchente da Baía do Guajará alagou a orla da cidade desde próximo ao Ver-o-Peso até a Igreja das Mercês, durante a procissão. Isso fez com que a berlinda ficasse atolada e os cavalos não conseguissem puxá-la.
Os animais então foram desatrelados e um comerciante local emprestou uma corda para que os fiéis passassem pela berlinda. Desde então, o item foi incorporado às festividades e passou a ser o elo entre Nossa Senhora de Nazaré e os fiéis.
Dados técnicos da Corda
São 800 metros de comprimento e 50 milímetros de diâmetro;
A corda é dividida em duas partes iguais de 400 metros, para ser usada nas duas maiores e mais tradicionais procissões do país: o Círio e a Trasladação.
Já adaptada às estações de metal que auxiliam no traslado das berlindas durante as romarias.
Mais de uma tonelada de fibra foi usada durante o processo de fabricação.
A corda tem matéria prima regional cultivada por agricultores de mais de vinte municípios entre as Regiões de Integração (RI) Guamá e Guajará, desde o plantio da semente, o cultivo, e a colheita final.
(Com informações da Agência Pará. Fotos: Bruno Carachesti)